como toda vez que meus pais estão de visita, a gente acorda mais cedo que o normal. talvez acorde tão cedo como sempre, mas levantamos assim que o primeiro se aventura e isso é sempre muito cedo. e como toda vez que eles estão aqui, nós vamos às compras.
ontem o destino escolhido foi o pavilhão de exposições do anhembi. 10 e 15 da manhã, apenas 15 minutos após a abertura, estávamos no interior do evento denominado super casas bahia. as compras não duraram tanto - "os preços não estavam tão baixos assim" -, se bem que eu passei um bocado de tempo assistindo matrix numa super televisão de 42 polegadas com um home theater bem poderoso e não vi o tempo passar. quando o vendedor veio me perguntar se eu tinha algum interesse em adquirir um produto como aquele, disse que até gostaria mas que não tinha os 6 mil reais suficientes - e se eu tivesse eu não gastaria num "personal cinema", mas enfim, isso eu não disse pra ele senão não ia conseguir ver o final do filme.
quando a gente chegou aqui em casa de volta, deu o faniquito nos meus pais e eles foram embora. até entendo eles não gostarem de são paulo - às vezes eu odeio a cidade pelos mesmos motivos - então, apesar de ficar triste quando resolvem ir antes do combinado - sempre! -, eu deixo quieto e vou fazer minhas coisas.
era meio dia e fui até o supermercado comprar o almoço. fiz um risoto com abobrinha e limão e tomates e um frango no nosso george foreman grill. eu não consegui abrir o vinho que tinha ganhado no meu aniversário e acabei empurrando a rolha pra baixo.
fico muito sozinha em casa muitas vezes e depois de ter separado minhas roupas pra mala, fiquei pensando que já vai ser um bocado sozinho este começo de viagem enquanto espero as outras pessoas chegarem. fui pro cinema pra pegar o primeiro filme que aparecesse. eram 4 horas da tarde.
eu precisava ir ao cinema sozinha. sentar na única poltrona vazia no meio de uma sessão lotada, quatro e meia da tarde de uma terça feira e ver um filme feliz como aquele que quase te deixa chorar, pra logo em seguida te fazer quase morrer de rir. é como se ele dissesse: "não, não é pra chorar, é pra rir, não é pra ficar triste, é pra ficar feliz, a felicidade existe mesmo quando tá tudo dando errado, independe do que está acontecendo no mundo de fora, está dentro de você, só dentro, só dentro". é, talvez por isso tenha sido tão especial: em 2006 eu aprendi a reter dentro de mim e manter mais forte a sensação de coisa boa, independente do que acontecia paralelamente.
e daí terminou e eu não queria voltar pra casa de ônibus. sempre que posso (já fiz 4 vezes!) desço ali pelos jardins até a estados unidos e vou pra casa andando. desta vez, no meio do caminho, começou a chover e eu não apertei o passo; pelo contrário, estava de férias, então deixei a chuva cair e me molhar toda.
eu era um pinto molhado quando abri a porta de casa pra tomar banho. eram quase 7 da noite. quando vim colocar minhas roupas na mala, no quarto, percebi que, talvez pela primeira vez no ano - ou desde que moro aqui e chego em casa antes do escurecer - o sol estava se colocando de frente pra minha janela, exatamente entre os dois únicos prédios grandes que tapam minha visão. ao mesmo tempo, chovia. do lado oposto da janela, a chuva fazia também suas sombras na parede do quarto. o sol desenhava as suas - e as minhas - formas e fiquei tirando fotografias do meu quarto cheio de sol e de chuva até que me lembrei de olhar mais, prestar mais atenção.
no predinho da frente, duas senhoras saíram na varanda e apontaram pro lado oposto do meu: havia um arco-íris gigante e elas estavam quase abismadas com o seu tamanho. eu não conseguia vê-lo, mas tinha o sol pra compensar, que foi indo embora devagarinho, deixando o resto do dia com seus tons de rosa, azul roial, lilás.
e com este resto de dia me arrumei e fui me encontrar com um menino de quem eu havia me despedido no começo de 2003 pra nunca mais ver. foi meio por coincidência que a gente se descobriu no meio de são paulo - é, ele agora mora aqui - e as coincidências apagam qualquer lembrança ruim que se possa ter de alguém. é como se contra a entidade Destino a gente não tivesse que colocar nossos pequenos caprichos vaidosos. ou as briguinhas.
quando ele abriu a porta de sua casa, eu vi a mesma pessoa bonita que eu havia visto há 4 anos atrás e quando ele me abraçou, entendi um monte de coisa que havia desentendido. eu soube das suas histórias, ele soube das minhas. me contou do seu pai, da sua irmã, da sua mãe. a gente deu risada das mesmas piadas que a gente dava antes e depois que ele pegou na minha mão, só soltou quando eu fui embora mais tarde, bem mais tarde, depois de deixá-lo em frente do seu predinho, número 1583, como no endereço passado por telefone.
e assim terminou minha tão agradável última noite de 2006, ou meu último dia completo do ano em são paulo, um destes dois nomes grandes. pra ele, prometi ligar no ano que vem, quando voltasse das férias. mas na verdade, não sei se vou fazê-lo. porque pra mim, prometi que algumas histórias pertencem ao passado e se tem alguma coisa que o ano me ensinou é que é lá que elas devem ficar.