25 November 2005

não há nada mais fácil que participar de grandes eventos. bons ou ruins, grandes eventos são sempre importantes, marcantes, cheios de emoção. grandes eventos são culminantes, na verdade o símbolo, o clímax de algum acontecimento. não importa que grande evento seja este: pode ser uma comemoração profissional. pode ser o surgimento de uma nova vida. um fim traumático de uma história. a quebra de um vaso. a despedida de uma pessoa. todos estes são grandes momentos.

é fácil lidar com grandes momentos. eles suscitam nas pessoas emoções que, involuntariamente, guardamos para aquela hora: felicidade pela felicidade alheia, tristeza e até desespero compartilhados, disponibilidade total para o outro etc etc, entre outras milhões de demonstração de sentimentos verdadeiros.

o que ninguém - ou quase ninguém - percebe é que grandes momentos são apenas minúsculos no espaço. fortes e intensos sim, mas pequenos, relativamente curtíssimos, mínimos na sua duração. os fatos, esforços, consequências etc decorrentes ou geradores destes momentos se estendem numa linha temporal que pode incluir o muito antes e o muito depois do grande acontecimento. e são com estes fatos, esforços e consequências que muita gente não consegue / quer conviver.

ter que lidar com o dia-a-dia, problemas e crises que vão e que vêm não é muito fácil. estamos prontos a aceitar que uma pessoa passe por problemas e crises, mas não que estes problemas e crises durem mais do que nós pensamos que é o tempo certo. tempo certo para nós. é muito difícil lidar com pessoas fracas.

aprendemos em livros de auto-ajuda e revistas de comportamento que devemos ter uma posição positiva em relação ao mundo. que devemos dizer sim mesmo quando a resposta é não. a dizer "estou ótima" mesmo com o mundo desabando nas nossas costas. "tuas palavras são teu mantra". "você é o que você fala". bobabem. no máximo uma regra de convivência, caso você não queira afastar de você quem não aguenta ouvir que sim, a dores ainda não passaram e que sim, aquela pessoa que sabia lidar com todas elas, de repente está fraca, frágil e não está conseguindo. está perdendo. já pensou como é difícil ter um "perdedor" por perto? o perdedor não tem assunto. o perdedor é chato, desinteressante. o perdedor "não quer se ajudar".

amigos não curam problemas. mas têm um poder filha da puta nestas horas. quando acontece alguma coisa de ruim (ou de boa também) é normal que haja uma comoção geral. mas tenho aprendido que este tal poder não está na comoção. se comover é fácil, eu mesma choro em propagandas de tv.

descobri que este tal poder também não está em grandes atitudes. está num processo constante e desacelerado: ouvir a mesma história milhões e milhões de vezes, em não cobrar absolutamente nada ("esqueça disso!" "só você ainda não percebeu?"), em uma mudança de assunto sutil, um olhar companheiro, um convite, um carinho.

eu nunca acreditei que aprendemos lições com as coisas da vida. pois bem, acabei de tomar na cabeça. desta vez, a primeira moral de alguma história da minha vida é a seguinte: guarde bem os amigos que têm uma compreensão enorme e uma paciência infinita. são as melhores qualidades do ser humano.

1 comment:

Bia Bonduki said...

em nome das perdedoras do brasil, eu digo que to aqui prá ouvir a mesma história quinhentas vezes. porque também se purga esses males recontando e recontando. :)