mais uma vez
não falo muito sobre isso mas uma vez, num outro blog, escrevi sobre um texto de um texto (sim, isso mesmo) do ruskin, que dizia que devíamos fazer exercícios de descrever coisas que vemos, sentimos, percebemos, com um olhar bem apurado, como se estivéssemos as desenhando (interpretação minha; na verdade ele dizia que devíamos desenhar mesmo).
eu hoje fiquei prestando atenção na maria clara. ela já fez cinco meses e parece que foi ontem. já está grande e esperta, esperta como quem, já aos cinco meses, segura sua própria mamadeirinha. sempre tento reparar em mães. e cada mãe sempre acha alguma coisa que seu filho faz que não é comum. eu não sou mãe da maria clara mas sou tia, e das corujas. dessas que atrasam pro trabalho só prá ver se ela dá gargalhada.
quando pensamos em neném, vem logo à cabeça a imagem daquela coisinha pequenininha, quietinha (ou não), fragilzinha, praticamente apática ao mundo. mas quando vamos convivendo diariamente com um, algumas coisas mudam nesta percepção. eu vejo um serzinho, uma alma pronta dentro de um corpinho, uma pessoinha que chegou e está descobrindo tudo junto ao mesmo tempo. a ver cores, pessoas, animais. aprendendo a se comunicar, a dizer que isso dói, aquilo não, a entender palavras, gestos. os olhos vão de um lado a outro e páram, de repente, num detalhe de alguma coisa, um lustre, uma planta. nessas horas não adianta tentar chamar a atenção enfiando a cabeça na frente (eu sempre faço isso), parece que não vê nada além do objeto de sua observação.
minhas próprias observações sobre minha sobrinha se misturam com as dela de mim. algumas horas nos olhamos nos olhos por alguns longos segundos e ela abre um sorriso. neste momento, baseada na comunicação primária estabelecida entre nós onde "sorriso = gosto" e "choro = não gosto", sinto-me amada de volta na mesma intensidade.
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