08 February 2006

algo muito pessoal

passado o momento das dores desesperadoras, quando você já consegue sorrir um pouco mais e apreciar genuinamente as coisas pequenas e sutis que acontecem na sua vida você pode se confundir um pouco e achar que está tudo bem.

melhor do que antes está. tudo bem, ainda não.

os problemas mudam um pouco, mas são misturados e de modo nenhum separados em partes ou categorias. da minha experiência (e só posso saber dela pois não sou nenhuma especialista em dor, nem teórica nem prática - ufa) posso contar que a solidão tem sido meu maior problema. não é a falta de ninguém, nem a lembrança de momentos vividos de felicidade e completude. é justamente a falta deles e, talvez, melhor ainda, a sensação de incapacidade de sentí-los novamente. conseguir separar e identificar meu inimigo real foi um grande passo para o começo de minha "recuperação".

ao mesmo tempo em que me sinto só e sei que este é O problema, não posso dizer que deixei de viver meu pequeno "lutinho". perdi alguém que me era muito caro e, infelizmente, minha capacidade de dar prosseguimento à vida como se nada tivesse acontecido não é tão desenvolvida: se consigo, de um certo modo, relativizar o tamanho do vazio deixado por esta perda, tenho tido alguns muitos problemas em preencher este mesmo buraco. meu único consolo é que sei que, quando passar, passa tudo de uma vez. eu me conheço e este buraco já foi deixado vazio antes. menorzinho, mas foi um buraco. e foi preenchido.

até tudo isso acontecer, resolvi me acalmar e ir em frente. o tempo não espera que eu resolva meus problemas para conduzir a vida. meu lutinho dorme e acorda, dorme e acorda. dorme quando me apercebo das coisas felizes - que têm sido muitas. dorme quando me apaixono, mesmo que por algumas semanas. dorme quando me sinto tão forte e grande e poderosa e, consequentemente feliz, que acho que posso dominar o mundo. mas é justamente nestas horas que meu "lutinho" acorda novamente, como que para me lembrar de que ele existe: através de sonhos, ou quando cruzo uma pessoa no corredor do trabalho, ou apenas por um cheiro, uma imagem, uma lembrança que vem do nada. nestas horas eu corro para o banheiro e choro, um choro intenso, sonoro, triste. mas curto. e daí depois eu respiro fundo e volto prá vida, que eu sei que ela não vai me esperar.

1 comment:

Anonymous said...

Rê, toda vez que o lutinho acordar, mede os passos que ele está longe de você. Você vai ver que cada dia ele está mais longe. Uma hora, só pegando um ônibus pra te torrar.