carnaval - parte 2 (ou o boitolo)
preciso cuidar para não me empolgar. ontem, no calor das tantas (tantas mesmo) cervejas tomadas eu quase tento arranjar um emprego no rio. quase me mudo de vez prá cá. enfio o pé na areia, fico olhando o pôr-do-sol e não saio nunca mais.
claro que tudo é tão mais fácil quando se é carnaval, quando você está num apartamento de frente para o mar e tem alguém fazendo ovos mexidos no café da manhã. tudo seria mais difícil no quitinete em botafogo, trabalhando com os cariocas e tendo que ouvir piadas meio bestas. tudo seria bem mais fácil se houvesse um cordão do boitolo nascendo toda vez que eu viesse prá cá. como não tem, eu fico com são paulo, minha cidadezinha-zona, meu apartamento lilás com meus lustres todos novos e minha camona de casal recém-adquirida, o zumbidinho gostoso, o calorzinho bom de voltar prá casa no fim do dia de trabalho.
mas calma. voltemos ao boitolo. eu explico. a história é boa.
dez da manhã quando a fê acorda assustada, dizendo que íamos perder o bloco do boitatá, este sim um bloco tradicional do rio. praça XV. centro. fantasias obrigatórias. "muito legal", proclamam os experientes. café da manhã em 15 minutos, ônibus, praça XV. e nada.
andamos de um lado pro outro sem encontrar nada. já estávamos nos convencendo que havíamos sido enganados - e pensando na praia - quando passamos por duas meninas vendendo cerveja (uma delas a bibi, que acabei descobrindo ser o meu novo nome - coisas da bebedeira do dia anterior) e paramos para assuntar. "aí, não sei onde tá tendo bloco não", soltou uma no maior carioquês. "ali na frente tá tendo um bloco, maix acho que é só de camelô", soltou a minha xará.
fomos andando.
de repente, uma pequena confusão, uma entrada, uma travessa e algumas pessoas fantasiadas. oba, vamos lá. à medida que íamos nos aproximando, o que antes era um barulho se tornava cada vez mais o som das marchinhas de carnaval. um razoável grupo de pessoas se aglomerava em volta de um "soprador solitário". achando que havíamos encontrado o tão procurado bloco, já abrimos o sorriso. que só ficou maior ainda quando descobrimos que um novo bloco havia sido formado pelos órfãos enganados do boitatá. "o boitatá não apareceu, então a gente criou o boitolo". e viva o boitolo. ou seria boicotá?
o nome foi eleito através do voto popular (uma placa de papelão disponibilizava as duas opções) enquanto o bloco dava voltas e voltas pelo centrinho do rio, enquanto a gente ia cantando todas as músicas, enquanto eu me empolgava mais e mais e dançava do lado da banda, atrás da banda, perto da banda, Bibi Fonfon, carnavalesca recém-batizada.
eram 3 e meia da tarde quando o pessoal resolveu ir embora. eu iria atrás do boitolo prá sempre, cantaria todas as marchinhas (aprendidas na marra por osmose), aprenderia a tocar pandeiro, seria a menina da cordinha.
é só uma pena que o carnaval acaba, que o santo da folia sai do corpo e que a gente deixa todo o estupor de lado. ou não. talvez seja bom. dá um gostinho de espera, espera pelo boitolo, espera por conseguir colocar prá fora um grito meio que constante, que é essa alegria instantânea de carnaval (delícia).
e, a propósito, fomos hoje no boitatá. que, nem de perto, foi tão legal quanto o boitolo. não aguentei mais de dez minutos e voltamos prá praia. o dia foi inteiro de pé na areia.
(o pôr do sol continua lindo, mas me deixa com saudades da minha cidadezinha-zona, do amarelinho que eu só consigo achar tão lindo por lá).
e, assim sendo, viva o carnaval. e viva os jacarés e os resgates de redinha.
viva a pausa.
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